O regime militar de Myanmar acusou os meios de comunicação social estrangeiros de efectuarem uma cobertura distorcida das consequências do ciclone que devastou a zona.
A investida desta sexta-feira teve como alvo os jornalistas e outros cidadãos que criticaram a actuação do governo. O ataque surgiu no seguimento da detenção de Zarganar, um famoso comediante que foi detido na passada quarta-feira após prestar ajuda aos sobreviventes da catástrofe.
Zarganar havia filmado as condições trágicas das vítimas e falou posteriormente à imprensa estrangeira, denunciando a falta de ajuda da Junta Militar.
«Não há dúvida que isto foi feito por razões políticas, mas há um elemento extra, porque pode isto estar ligado ao esforço da ajuda humanitária», explicou um representante da Amnistia Internacional, citado pela CNN.
O grupo continua bastante preocupado com as condições básicas de sobrevivência e com o respeito pelos direitos humanos, que tem sido «contornado» em várias situações. A ONU fala em mais de um milhão de sobreviventes a necessitar de ajuda humanitária.
Os meios de comunicação social têm concentrado as suas críticas na falta dessa mesma ajuda por parte da Junta Militar. Entre os argumentos, estão os rumores de carregamentos de água e comida que terão sido «desviados».
Já o jornal Nova Luz de Myanmar, uma espécie de órgão do governo, desmente as alegadas falhas: «Essas agências de notícias estrangeiras produzem histórias com a intenção de prejudicar a imagem de Myanmar e de levar a comunidade internacional a acreditar que as vítimas do ciclone não recebem nenhuma assistência».
A passagem do ciclone Nargis por Myanmar deixou um rasto de cerca de 78 mil mortos e 56 mil desaparecidos. Depois de recusar ajuda de países estrangeiros e de prender vários cidadãos que se mostraram mais críticos, a Junta Militar concentra-se agora na actuação da imprensa estrangeira.