Os cerca de seis milhões de habitantes da cidade do Rio de Janeiro e os milhares de turistas, entre os quais muitos portugueses, têm a vida permanentemente em risco e podem a qualquer momento ficar no fogo cruzado entre polícias e criminosos. Nos piores dias a capital carioca chega a ter 15 confrontos armados, colocando em risco toda a gente – quer das favelas quer dos bairros elegantes da Cidade Maravilhosa.
Os alarmantes dados foram fornecidos pelo próprio comandante-geral da Polícia Militar, coronel Gilson Lopes, responsável pelo policiamento ostensivo.
Em depoimento à Comissão de Segurança, na sede do governo em Brasília, o coronel forneceu outro dado deveras preocupante: desde o início do ano até ao passado sábado, dia 24 de Maio, houve na capital carioca nada menos do que 748 confrontos armados entre a tropa que ele comanda e grupos de criminosos. Mais: os agentes da polícia e os criminosos usaram armas pesadas, habitualmente apenas utilizadas nas chamadas guerras convencionais.
Os números divulgados pelo militar assustam, mas ficam, no entanto, muito aquém da realidade. É que os dados que o general revelou dizem apenas respeito a acções da Polícia Militar, não incluindo as operações levadas a cabo diariamente pela Polícia Civil (Judiciária) e pela Polícia Federal nem os confrontos entre grupos rivais de criminosos – quer em acertos de contas quer na tentativa de ocuparem territórios dominados por adversários.
A tendência a curto e médio prazos é a de que os confrontos se intensifiquem, como aliás salientou o coronel Gilson Lopes. Para este responsável da Polícia Militar tal será inevitável, uma vez que as autoridades estão cada vez mais presentes nas ruas da cidade e os criminosos – principalmente os narcotraficantes, fragilizados em função das múltiplas acções policiais – tentam actos cada vez mais desesperados, incluindo o recurso a assaltos e outros crimes com armas de fogo, para conseguir concretizar os seus negócios.
AI MUITO DURA COM O GOVERNO
A Amnistia Internacional voltou a ser dura com o Brasil no seu relatório anual, que dedica ao país cinco contundentes páginas. Uma das críticas atinge o presidente Lula da Silva e o Programa de Aceleração do Crescimento, conjunto de infra-estruturas que a Amnistia afirma estarem a ser a ser erguidas sem preocupação com os direitos da população. A entidade condena a tortura que afirma ainda persistir como prática da polícia brasileira e as condições sub-humanas nas prisões, denuncia que esquadrões da morte continuam a matar milhares de pessoas e classifica a actuação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, como 'draconiana' e 'belicosa'. Para a AI, o discurso do Brasil em defesa dos Direitos Humanos colide com a realidade interna e as medidas ineficazes do governo em casos como a utilização de trabalho similar à escravatura, principalmente na colheita de cana de açúcar.
