Carlos Gomes
"F oi um grande debate, ao contrário do que se previa", declarou ontem, em entrevista à televisão estatal espanhola (TVE), Manuel Campo Vidal, o jornalista que moderou, anteontem, o primeiro frente a frente dos dois pretendentes à presidência do Governo de Espanha, o primeiro-ministro socialista cessante, José Luís Rodríguez Zapatero, e o seu rival de Direita, Mariano Rajoy.
Desde os primeiros minutos do debate, os telespectadores defrontaram-se com dois mundos muito distintos o de Rajoy, que falava da subida dos preços, das hipotecas, das "mentiras" de Zapatero e de uma imperiosa necessidade de "corrigir o rumo" de Espanha, e o mundo do candidato socialista, que pede mais quatro anos para concluir o seu "ambicioso projecto" para o país.
Este esperado debate ocorreu num momento crucial. Sondagens realizadas pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) dão a Rodríguez Zapatero uma vantagem mínima de 1,5 pontos sobre o líder do Partido Popular (PP), Mariano Rajoy. Há meses que os conservadores se vêm aproximando dos seus rivais.
Apesar de o eleitorado conhecer, há quatro anos, o que pensam Rajoy e Zapatero, os aspirantes à chefia do Governo vinham a preparar-se para um debate que não havia em Espanha desde 1993, e que, segundo os especialistas na matéria, pode ser potencialmente determinante para a vitória do PSOE ou do PP. Já no domingo passado, 4,7 milhões de espanhóis tinham assistido ao frente a frente dos candidatos ao posto de "número dois" do Governo o actual ministro da Economia, Pedro Solbes, e Manuel Pizarro do PP. Anteontem, mais de 13 milhões de telespectadores acompanharam o intenso e crispado debate entre Zapatero e Rajoy - primeiro duelo televisivo da actual campanha para as eleições legislativas de 9 de Março -, que foi transmitido em directo por 30 canais de televisão e por numerosas estações de radiodifusão e páginas da Internet.
Manuel Campo Vidal, presidente da Academia das Ciências e as Artes de Televisão de Espanha (ACAT) - associação que congrega os principais operadores de televisão, e que promoveu o debate - disse ontem que Zapatero e Rajoy apresentaram-se "com as coisas muito preparadas" e que houve "cordialidade e jogo limpo" na relação entre os dois. O veterano jornalista sublinha que ambos os candidatos foram "disciplinados nos tempos" (durante os 90 minutos que durou o debate), ao ponto de ter havido apenas alguns segundos de diferença a somar a todas as intervenções dos dois.
A maioria das sondagens publicadas ontem davam Zapatero como vencedor (por margem reduzida) sobre Rajoy, embora o PSOE (Centro Esquerda) e o PP (Centro Direita) façam as suas próprias interpretações, dando como vencedor o respectivo líder. A par destas sondagens e opiniões, e segundo as tendências política, cada jornal, televisão ou rádio dá a vitória ao candidato de eleição.
Rajoy,de 52 anos, assumiu no debate o papel de provocador, fazendo o ajuste de contas da governação de Zapatero, de 47 anos. Acusou-o de não ter "feito nada pela Economia" e de ter "mentido a todos os espanhóis" quando "negociou politicamente" com os independantistas bascos armados da ETA, o "maior fracasso da legislatura". Em poucas palavras e combativo, Zapatero respondeu toco a taco, criticando a Direita por ter quebrado a união sagrada dos democratas espanhóis contra o terrorismo, ao atacar sistematicamente o PSOE sobre a questão. Além das conhecidas divergências sobre soluções para o terrorismo basco, Zapatero e Rajoy falaram muito de Economia e Imigração (ver texto ao lado).
O segundo debate televisivo está agendado para a próxima segunda-feira, tendo como moderadora a jornalista Olga Viza.
Fonte J.Noticias